
Nosso corpo é um veículo de expressão, frequentemente inconsciente, e de natureza “não-verbal”. Ou seja, o que ele pode “falar” não será dito de maneira racional, narrativa, ou através de códigos que nosso cérebro deve compreender, como fazemos com a língua escrita/falada e suas palavras.
Não confundam com a Língua Brasileira de Sinais, LIBRAS, pois, apesar de se expressar através de corpo e dos gestos, é uma transliteração da linguagem verbal falada, e possui uma estrutura narrativa similar. É necessário aprender sua codificação para ser entendida.
Embora existam formas corporais de comunicação universais análogas à linguagem falada, a ênfase deste post é o território fora dessa área racional. Para exemplificar a diferença, imagine que você está diante de uma pessoa de outro país que não fala sua língua, e ela está com fome. Podemos imaginar duas formas que este indivíduo pode comunicar sua situação:
A mais direta e racional: ela chama a sua atenção, aponta para si mesma e em seguida para a boca, aberta, esfregando a barriga com a outra. Você entende o “código” para “eu estou com fome”. Já na mais indireta e intuitiva, você olha para esta pessoa, que está levemente recurvada, com a mão na barriga, olhando fixamente para algum alimento, e a língua lambendo os lábios. Você também entende o “código” que informa que ela está com fome.
Mas neste segundo exemplo, não há uma estrutura comunicativa codificada em “sujeito + verbo + substantivo”, ou seja, “eu + estou + com fome”. Você simplesmente entende que aquela pessoa está precisando comer. E esse entendimento vem de uma percepção instintiva da linguagem corporal.
Assim, vemos que a linguagem do corpo a que me refiro aqui é mais inconsciente. Está presente em todos os momentos, dos mais cotidianos aos mais elaborados, e é um canal de maior vazão emocional. É preciso muito esforço e vigilância se quisermos impedir que nosso corpo transpareça o que estamos sentindo ou pensando.
No dia-a-dia, podemos ver – seja nos outros ou em nós mesmos, se prestarmos atenção – como nosso corpo está, como se comporta, como reage, como sente. Embora sempre haja aspectos universais, cada pessoa é única e, consequentemente, o seu “dialeto corporal” será distinto.
Se estivermos com medo, preocupados ou ansiosos, provavelmente teremos músculos retesados ou contraturas; nossas mãos suarão frio, o coração e a respiração estarão acelerados; o corpo talvez trema, e sua postura estará mais retraída, fechada; nossa mente, em alerta, manterá o corpo pronto para reagir, e terá dificuldade em ter foco; talvez você sinta dores de barriga, náuseas e sequer consiga se alimentar ou dormir direito.

Já se estivermos alegres e tranquilos, o corpo estará relaxado, o coração e a respiração mais calmos; nossa postura estará mais aberta e convidativa; poderemos nos concentrar em qualquer coisa e esquecer o mundo, comer e sair sem receios de passar mal ou sentir dores.
Nosso estado mental, emocional e personalidade sempre se refletem de alguma forma física. Isso inclui o que chamamos de “somatização”, e que pode chegar a casos mais extremos, quando a mente está perturbada com conflitos e feridas. Nosso sistema imune também reage aos nossos estados internos.
Assim, observar a nossa linguagem corporal, reações viscerais, sintomas físicos e a relação com o próprio corpo é uma forma muito rica de autoconhecimento. Ao aprender mais sobre como funcionamos, podemos buscar com mais consciência formas de expressar e extravasar quaisquer coisas que estejam somatizando em forma de sofrimento.
Isso traz benefícios para a nossa saúde física e mental, mas também melhora nossa comunicação e relação com os outros, pois as pessoas irão, consciente ou inconscientemente, reagir à forma como você se apresenta e expressa fisicamente. Você já deve ter visto em algum lugar cursos, palestras ou serviços de coaching sobre como ter uma atitude mais confiante ou similar, tudo embasado na postura e expressividade.

Usando a linguagem falada como analogia, nosso corpo é o alfabeto que usamos para expressar essas questões inconscientes, instintivas e emocionais. Temos a nossa “letra do dia-a-dia”, mas podemos também elaborar nossa caligrafia, ou pura e simplesmente fluir em “rabiscos” aleatórios.
Traduzindo a metáfora, eis o trabalho com movimento e dança, que oferece um leque de experimentações “especiais”, ou seja, fora do contexto cotidiano. Podemos explorar movimentos livres, direcionados, ou acompanhado de música e leitura expressiva.
Embora tudo isso possa ser feito de maneira espontânea e sem um background técnico, aprender um (ou outro) estilo de dança vai expandir suas possibilidades de expressão corporal, consequentemente te dando mais “letras” para o seu alfabeto pessoal.
No Laboratório Dharma Fusion iremos explorar o corpo junto das demais atividades artísticas, inclusive construindo uma coreografia completa de Fusion Bellydance a partir do que você trouxer! Vem experimentar 😉
