
Não é novidade pra ninguém que a vida é cheia de altos e baixos, desvios e retornos, conflitos e uniões. Isso está presente em literalmente tudo à sua volta, externamente e internamente, e o conceito “solve et coagula” fala exatamente sobre isso.
“Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, frase de Lavoisier, pai da química moderna, expõe o funcionamento básico da nossa realidade. Exceto, talvez, pelo Big Bang, tudo o que existe à nossa volta veio de algum lugar e está em constante luta entre forças de ordem e a boa e velha entropia. Para criarmos algo, precisamos de matéria-prima e alguma fonte de energia para a transformação e manutenção do resultado. E isso implica na destruição do estado original para que o novo surja.
A Química ilustra muito bem esses processos, mas atualmente essa área da Ciência se foca apenas nos aspectos literais do universo. Porém, sabemos que muitas coisas da realidade subjetiva são também regidas por esse tipo de processo. Se você quer mudar algo na sua vida e/ou personalidade, terá de transformar sua situação atual para conseguir o que quer. E isso requer um processo de dissolução do velho para a construção do novo. Se a mudança é apenas superficial, ela não passa de uma máscara, que esconde a ausência de transformação.
Mas apesar de termos essa cisão entre Ciência e O Resto, antigamente tudo andava de mãos dadas, e o que chamamos de Química hoje foi outrora chamado de Alquimia. Essa área visava estudar as propriedades da realidade, tanto em termos objetivos e literais, relacionados à matéria, quanto subjetivos e abstratos, como a mente e a espiritualidade.
Alguns alquimistas se focavam em estudar a matéria concreta, sendo o mais conhecido os que dedicaram a vida a tentar transformar chumbo em ouro, e foram eles que construíram a estrada para o que viria a ser a Química atual enquanto área científica. Entretanto, outros percebiam os padrões subjetivos dos processos humanos, e viam a transmutação chumbo-ouro como algo simbólico, representando a busca pelo refinamento da alma do indivíduo – A Grande Obra.
Estou há tempos num processo de solve et coagula, dissolução e reconstrução, e as várias reformas que iniciei neste site refletem isso. Mas, por mais que todos nós estejamos constantemente mudando – e nos tempos atuais, quem não tá vivendo uma montanha-russa metafórica, não? – estar ciente destes processos é o que muda nossas perspectivas.
Nos últimos anos minha vida trouxe uma série de desafios, e com estes, novas reflexões sobre A Vida, O Universo e Tudo o Mais. Não que eu nunca tenha refletido antes – muito, muito pelo contrário :p – mas agora certas coisas foram capazes de virar tudo de pernas pro ar, e me vi “reformando” e refinando quase tudo na forma como vejo a Existência e o cotidiano.
Anos atrás eu usava a metáfora de um caldeirão para representar a minha mente. Minhas experiências de vida eram os alimentos picados e jogados dentro dele – mas eu ainda não possuía o fogo pra poder cozinhá-los. Minhas “reformas” anteriores já eram tentativas de acender essa chama.
Pois eis que, creio, finalmente a acendi. Ainda é brasa, mas aos poucos aprendo a alimentá-la.
Minha eremitice exacerbada é este processo de cozimento. Estou finalmente integrando conceitos, transformando conhecimentos em sabedoria, absorvendo os nutrientes que tratam minhas feridas.
O caldeirão está no fogo. Casulo traduz um pouco desse processo.
Não sei ao certo no que irei me tornar, mas me sinto confiante de que já consigo enxergar um fiapo de luz que sai das primeiras brechas do que me encapsula.
E uma destas coisas é perceber a Totalidade e suas milhares de facetas poligonais, e como eu estava me afastando disso ao tentar separar em caixinhas as áreas da minha vida – como a dança e este site. Preocupações com dinheiro e carreira me fizeram dar demasiada importância ao que os outros talvez queiram, em detrimento à minha alma criativa.
Quero falar sobre meus processos criativos, sobre as ferramentas teóricas que uso nas minhas criações, e como a vida reflete a arte e esta influencia o indivíduo. Quero tagarelar sobre assuntos diversos que permeiam minha mente e coração, expor opiniões e defender tópicos políticos – porque néam, não existe posicionamento neutro. E, em especial, também sobre espiritualidade e saúde mental. Sabemos que atualmente está havendo um boom de adoecimento psíquico, e ainda há muita ignorância e alienação sobre o tópico.
E assim vou aprendendo. Absorvo e compreendo cada vez mais quando tento organizar e ensinar, e hoje em dia acredito que há uma necessidade enorme de se dividir vivências e crescer juntos dos outros, em vez de ficarmos julgando o conhecimento de alguém ou esperar ter um pós-doutorado e 30 anos de experiência para ter o direito de opinar.
A pandemia da Covid-19 e o caos generalizado na nossa sociedade e mundo escancarou problemas estruturais e graves da nossa humanidade. Viver têm sido como caminhar em terreno minado, repleto de medos e desconfianças, muitas vezes com razão. É preciso lutar para poder regar a semente da esperança.
E cultivá-la é meu objetivo.
